ESTUDANDO MEDICINA
“A grande universidade tem duas funções, ensinar e pensar”
(William Osler; Aequanimitas: “Teaching and thinking”)
No capítulo anterior abordei o tema da vocação. E como deve ter ficado claro para você, há muitas áreas da medicina e, portanto, um enorme campo para explorar as suas potencialidades. Entretanto, há um pré-requisito fundamental, a meu ver, que é gostar de estudar. Estudar continuadamente é uma obrigação de todo o médico. O conhecimento cresce exponencialmente em nossa profissão e devemos sempre nos atualizar e para isso é necessário estudar.
Se você gosta de estudar, tudo bem. Acho que algumas técnicas podem aumentar mais ainda o seu rendimento e falarei um pouco sobre as que mais me ajudaram e que ainda uso para estudar. Se você não gosta de estudar e quer ser médico, só há um jeito: passar a gostar de estudar.
Como passar a gostar de estudar se você não aprecia ou não se sente bem com um pesado livro à sua frente?
Bem, neste caso, você deve saber de dois fatos: 1) você ainda não descobriu um assunto pelo qual você se apaixonou e 2) existem várias outras formas de estudo além de ler um livro.
Vamos falar primeiro de descobrir um assunto apaixonante dentro da medicina. A medicina é vastíssima, quase tudo o que você gostar de fazer como um hobby pode encontrar uma contrapartida dentro da medicina como expliquei no capítulo anterior. Vejamos um exemplo: imaginemos que você tenha muita habilidade manual e goste de cirurgia. Você assistiu a dissecações de animais no colegial e adorou mexer com os tecidos e órgãos dos bichinhos. Tenho certeza que você precisará estudar anatomia para ser um bom cirurgião. Comece então por escolher um livro agradável de anatomia, talvez mais resumido, talvez melhor ilustrado, mesmo que não seja o livro que lhe foi indicado. Comece a lê-lo e perceba que ele passará, como um professor, a lhe desvendar fatos e dados que serão fundamentais para sua futura carreira como cirurgião. Talvez estudar por um texto de anatomia eletrônico com figuras e “links” para outros textos ou páginas da Internet poderá lhe ser mais agradável e eficiente do que estudar por um texto na forma de livro. Comece sempre por onde você mais gosta, pelo assunto que mais lhe interessa e deixe que o gosto pelo estudo, assim desperto, lhe acompanhe para as outras matérias que não lhe pareceram, num primeiro contato, tão interessantes.
Você poderá estudar a partir de livros, artigos científicos, assistência a aulas, palestras, reuniões clínicas e a partir de publicações específicas para a atualização de médicos já formados (geralmente publicadas sob a supervisão das sociedades médicas de especialidades). Estas são apenas algumas das maneiras de estudar.
Quanto ao tipo de estudo, eu o divido em dois tipos: 1) o estudo focado em um problema, por exemplo, como tratar uma dada doença X em pacientes idosos. Este estudo provavelmente requererá uma busca na literatura especializada para achar artigos específicos que tratem deste problema; 2) um outro tipo de estudo, mais geral e próprio para quem está começando o curso médico é estudar, por exemplo, a doença X. Neste caso precisamos achar geralmente um capítulo de um bom livro ou um artigo de revisão mais ampla que trate da doença X de forma geral, compreensível e agradável e cuja extensão seja compatível com o tempo que temos para lê-lo.
Eu conheço também colegas que, por exemplo, não gostam tanto de ler revistas científicas e livros e que se atualizam freqüentando reuniões clínicas de determinadas especialidades que acontecem em faculdades ou hospitais. Nestas reuniões discutem-se casos clínicos e se apresentam também pequenas aulas focadas em problemas levantados por ocasião da discussão dos casos. Estas apresentações de casos e pequenas aulas substituem, pelo menos para eles, a leitura de um ou mais artigos.
Na prática, muitas vezes, combinamos todas estas formas de estudo, enfatizando mais a que nos é mais fácil e agradável e, como resultado de sua prática regular, nos atualiza e, desta forma, podemos dar a melhor assistência a nossos pacientes. A escolha da forma mais agradável de estudar pode, portanto, acomodar todos os tipos de médicos: os que gostam mais de ler, os que preferem assistir a reuniões e aulas, etc.
Atualmente surge em nosso meio a diretriz, originalmente americana, de se revalidar periodicamente os títulos de especialista através da assistência a ou participação em um dado número de atividades didáticas (palestras de congressos, reuniões clínicas, apresentação e publicação de trabalhos científicos, etc) reconhecidas pelas sociedades de cada especialidade. A cada uma destas atividades reconhecidas corresponde um número específico de créditos cuja soma, ao longo do tempo, se atingir o valor estipulado pela sociedade médica, permite ao especialista revalidar seu título. A educação médica continuada como rotina da vida dos médicos reflete, portanto, a importância que a sociedade geral e que a comunidade médica dão ao estudo constante que, sob suas mais diversas formas, permite a habilitação continuada do médico ao exercício de nossa profissão.
Nos próximos capítulos, devido à importância do estudo para a carreira do médico, explicarei para você com mais detalhes como estudar a partir de livros e artigos científicos, além de discorrer em como se atualizar via internet, aulas e palestras.